O universo é do tamanho do seu mundo

O maior não é aquele que domina, tem mais poder político ou financeiro, mas aquele que serve. Na maioria das vezes, tentando encontrar o rumo da vida, nos deparamos com diversas coisas, nos envolvemos nas situações e não olhamos diretamente a nós. Mesmo passando ao largo, cada um toma pra si o que quer como verdade, por uma questão de alimento de estima psíquica e então relaxar deixando a angústia de lado.

Atos valem mais que palavras, não há confusão, o destino encontra-se somente em nossas mãos e escolhas. Tudo é conquistado aos poucos no dia após dia, uma tarefa árdua e contínua. Antes de tudo, pra se conquistar algo verdadeiro que não vá embora fácil por ter vindo fácil, tem de olhar e cuidar de si 100%, encarar as dores permitindo coisas intensas irem embora como querem, se dedicar com vontade em seus objetivos na estrada. A vitória, observar as coisas acontecendo e a estabilidade emocional confirmam a força de quanto é implacável e gratificante ser seu próprio guia e herói.

O ser

No início as pessoas se apaixonam e se encantam cegamente pela leveza da outra pessoa, seu jeito de ser, por seus gostos, suas amizades e invariavelmente sempre no fim da relação é exatamente isso que elas não curtem mais, a atração se esvai. Bem lá atrás Platão concluiu que o amor nada mais é do que o reencontro das duas antigas metades em novo e definitivo Um. Insinuou, porém, que tal reajuntamento nunca é perfeito, sempre será marcado pela cicatriz e pelo estranhamento em alguns momentos.

A amizade é uma forma de amor e um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão narcisista e delirante com o outro, logo a frustração é menor. Conseguimos enxergá-la com seus defeitos e virtudes num prisma muito menos frágil, por isso vemos a importância diferente de cada um. Há uma constatação indagadora: o por quê de os seres humanos não conseguirem ter uma relação de amizade com seus eleitos amados assim como têm com seus próprios amigos. Talvez seja sim complicado pela necessidade de pontuar e saber até onde vão esses limites. Ou seja, a amizade aspira ser somente Dois, o amor aspira delirantemente ser Um, de alma e corpo.

Amantes da antropologia e filosofia sabem que os filósofos mais importantes de nossa história deram luz em sua juventude à suas obras mais criativas, aclamadas e estudadas. Porém, todos eles, mesmo os de escolas existencialistas, ateias e pessimistas (Schopenhauer, Nietzsche, Sartre), após toda vida de estudos morrem da mesma forma comoventemente bela: crendo em Deus... Ainda que alguns não citem seu nome explicitamente nas últimas obras, observam a existência de uma força maior, da presença da fé. Há um forte brilho nisso.

Vejo que assim é poeticamente com o amor, é necessário sairmos sim da ilha, tirarmos o véu translúcido que encobre suas fragilidades, o que ele é e o que precisa de verdade. Entretanto, por mais delirante e cego é o sentimento mais forte que possuímos, quando verdadeiro, por alguém que nos move com o coração a sorrir em busca de nossos sonhos e nossa simples felicidade.

Rotação / Translação

Deixando pra trás a tia do jardim e assumindo um olhar próprio, é particularmente fascinante e abstrato o tempo. Levamos um dia inteiro pra girar dentro de uma esfera, reclusos, por isso, no dia e noite. O acúmulo dessa atividade monótona (pra quem vive nesse mundo louco) por 365 vezes significa que envolvemos em um abraço completo o astro maior de uma dimensão sempre inimaginável humanamente.

Pra mim liberdade é estudar o universo, suas grandezas e belezas infinitas! O amor, a coisa mais forte, bela e inexplicável que senti desde que apareci aqui no outono/inverno de 83, e tudo que sentimos ou tocamos estão reclusos no nosso minúsculo planeta pálido. Livre-se das delícias diminutas e esgote-se na imensidão intergalática!

*valeu effe...

J.Felipe

Já disse Humberto Gessinger, em 1991, de forma cíclica voltando ao início: a gente vive assim, sempre acabando o que não tem fim...

O modo que a vida age

É curioso e inexplicável o poder da mente e o modo "surpresa" de agir da vida, é como se a atividade e o peso da reflexão interna se materializa-se em dois versos despretensiosos ouvido longe, ao fundo:

Vivemos esperando
Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores
Melhores no amor
Melhores na dor

J.Felipe

Chove. Que fiz eu da vida ?

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa