quinta-feira, 7 de abril de 2011

Superficialidade

Hoje foi o dia de uma das maiores tragédias do Rio de Janeiro e pra mim ainda mais lamentável é a forma como isso é abordado e chega até nossas casas. Esgotam o assunto de todas as formas sensacionalistas possíveis e criam uma indignação passiva nas pessoas que começam emocionalmente a bradar em vão "cadê a segurança devida contra esse demônio?" ou fundamentar o crime em preceitos religiosos como "esse mundo está acabando mesmo, como pode isso!". O problema não é segurança escolar e tampouco o apocalipse. Demonizar o efeito é mais fácil que analisar as causas. A verdade é que nem o Canadá, um dos países mais seguros e tranqüilos do mundo, se safa ou erradica crimes do tipo.

Uma semana atrás um jovem cometeu suicídio atirando-se do 11º andar da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O que faz do jovem que premeditadamente atentou contra crianças e se matou um "monstro maluco" e o que arremessou sua vida do alto de 40 metros e viu ela se esvaindo um "pobre rapaz" apenas? Apesar da diferença de exposição midiática, são pessoas que sofrem de transtorno psicológico (eis aí a raiz da questão!), ou ao menos chegaram a esse ponto extremo por alguma razão ainda pouco passível de entendimento racional por nossa parte. Só vemos o absurdo, o grotesco.

Onde está o bom jornalista (ou o bom jornalismo) pra furar o senso comum deixando esse ranço sensacionalista de lado e esquentando um pouco a cadeira do objetivo maior da profissão, que é o de informar e levar conhecimento útil que acrescente pra sociedade? Não vi uma discussão e nem sequer uma pincelada sobre criação de meios preventivos de sociopatia ou acompanhamento psicológico para predispostos. Pessoas com problemas sempre vão existir. Pra nós aqui do Brasil é uma situação pouco vista, precisamos que a grande mídia toque no cerne da questão fazendo o estado se mobilizar.

Imagino situações hipotéticas, tais como se eu ou mesmo alguma outra pessoa de bem que conheço chegassemos a um extremo parecido sem precedentes. Penso que a recepção por parte dos que estão de fora, através do senso comum incitado pelos nossos meios de comunicação de massa, seria a mesma. À parte o que somos de bom, somente nos sobrariam adjetivos ruins tachados de forma mecanicamente preguiçosa para justificar o feito. Mesmo que na realidade do dia-a-dia não representássemos adequadamente nenhum deles.

Quem leu a carta deixada hoje pelo jovem percebeu que o mesmo possuia visão das coisas, tinha ciência concreta do que faria e do seu fim. Temos exemplos clássicos de atentados protagonizados por pessoas de alto nível social e que não representavam ameaça alguma para sociedade antes de praticá-lo. O que passa na cabeça antes de um momento desse? O que leva a um momento explosivo assim? Como coibir o acesso às armas de fogo? Sair da superficialidade é preciso para obter visão mais próxima da nossa realidade enquanto seres humanos complexos e assim evoluir melhorando nossa existência.

J.Felipe

2 comentários:

  1. Primeiramente, surpresa. Não sabia que meu amigo é um blogueiro!rs
    Muito bom texto Jorgito.
    Pois é ações como as de hoje acontecem pelo mundo a muito tempo, mas mesmo sabendo do perfil de quem as comete, nada é feito. Psicopatias ainda é um tabu na nossa sociedade. fato! Até acontecer algo trágico como este, tdos ficamos chocados, mas daqui a pouco a noticia se esgota e a atenção é voltada para o novo namoradinho da atriz da novela das 21h. E não é a primeira vez que alguém se joga do 11º ou 12º andar da Uerj, quem estuda lá ou conhece quem estuda ou estudou, sabe que a faculdade é cenário há mto tempo para isso, mas não é midiado. Suicidio tbm é um tabu na mídia! Enquanto não se encarar os problemas em sua raíz, tdo vai continuar como está. Enfim..

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  2. eu havia entrado aqui e lido seu blog no início da semana mas não consegui comentar...ae está uma visita não como retribuição mas sim pq sou um leitor do seu blog! Abraço.

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